segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ascenso Ferreira, o escritor

- Foto do acervo da Iconografia da Fundação Joaquim Nabuco

Poeta pernambucano, Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu no município de Palmares em 9 de maio de 1895. Órfão aos treze anos de idade passou a trabalhar na mercearia de um tio e, em 1911, publicou no jornal A Notícia de Palmares o seu primeiro poema, Flor Fenecida. Em 1920 mudou-se para o Recife, onde se tornou funcionário público e passou a colaborar com o Diário de Pernambuco e outros jornais.

Em 1925, participou do movimento modernista de Pernambuco e, em 1927, publicou seu primeiro livro, Catimbó. Viajou a vários estados brasileiros para promover recitais. Em 1941 publicou o seu segundo livro (“Cana Caiana”). O terceiro livro (“Xenhenhém”) estava pronto para ser editado, mas só sairia em 1951, incorporado à edição de Poemas, que foi o primeiro livro surgido no Brasil apresentando disco de poesias recitadas pelo seu autor - a edição continha, ainda, o poema O trem de Alagoas, musicado por Villa-Lobos.

Em 1955, participa ativamente da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, inclusive participando de comícios no Rio de Janeiro. Em 1956, foi nomeado por JK para a direção do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, no Recife, mas a nomeação foi cancelada dez dias depois, porque um grupo de intelectuais recifenses não aceitava que o poeta e boêmio irreverente assumisse o cargo. Foi nomeado, então, assessor do Ministério da Educação e Cultura, onde só comparecia para receber o salário.

Em 1963, a Editora José Olympio (RJ) lançou Catimbó e outros poemas. A 05 de maio de 1965, morre, no Recife. Usava sempre um grande chapéu de palha, que era uma verdadeira logomarca.

Sobre Ascenso Ferreira, assim falou Manuel Bandeira: “... Nos seus poemas, ele mistura os versos do ritmo mais martelado, os que por isso mesmo os cantadores nordestinos ‘martelo’, com os versos livres mais ondulosos e soltos, com frases de conversas e música pelo meio...”, e mais ainda: “A essa originalidade de formas se acrescenta outra, mais valiosa, a maneira de sentir e exprimir a terra na paisagem e na sua gente.”

Sérgio Milliet observou: “Nestes tempos de progresso e igualmente de angústias, de dúvidas, de “homens partidos”, Ascenso é a presença saudosa de um Brasil que desejaríamos intocável, permanente e crescendo sem aculturações. Uma utopia é certa, mas que se impõe a nós, com tamanha força, que os próprios filhos de imigrantes, no Sul, com ela sonham, dela e para ela vivem.”, para mais adiante afirmar: “Os nomes ficam, mas os homens morrem. E muito breve que significarão esses nomes para os nossos netos, se uma voz não houver fixado nas canções e nos livros toda a riqueza sentimental que um dia contiveram? Ascenso terá sido no futuro uma dessas raras vozes que ouvirão os pósteros, entre sorridentes ante o lado pitoresco e olhos melancólicos à evocação de uma coisa que era na verdade outra coisa...”.

Para concluir, algumas considerações de Mário de Andrade: “... Só mesmo Ascenso Ferreira com este “Catimbó” trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o mérito principal dele, um mérito inestimável.”, e continuando: “A solução rítmica de Ascenso Ferreira é notabilíssima como variedade, ineditismo e acomodação. Acomodou, como ninguém, a frase oral, o verso medido e o verso livre.”, e mais ainda: “Na notação popular, fortemente ritmada, Ascenso Ferreira é inexcedível. Tendo abandonado as Cortes de Amor do Recife pelos terreiros dos Pais-de-Santo, pelos pátios das noites, entre catimbozeiros, bêbados e cantadores, pelos cocos de praia, ele tira a melhor expressão da sua originalidade dos elementos folclóricos. Atravessa o livro quase todo uma psicologia profética de feitiçaria e um ritmo de refrão que são, unidos, a palavra nova que o poeta veio nos cantar.”

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